Não sou da rua, nem da lua, nem sou tua. Sou folha seca, solta ao vento, em pleno ar. Não sou de ferro, nem de bronze, eu sou normal. Sou marinheira eu sou das águas... EU SOU DO MAR!
Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.
Chega um dia em que o dia se termina antes que a noite caia inteiramente. Chega um dia em que a mão, já no caminho, de repente se esquece do seu gesto. Chega um dia em que a lenha já não chega para acender o fogo da lareira. Chega um dia em que o amor, que era infinito, de repente se acaba, de repente. Força é saber amar, perto e distante, com o encanto rosa livre na haste, para que o amor ferido não se acabe na eternidade amarga de um instante.
Aprendi que não posso lutar pelo amor de alguém… Posso apenas esforçar-me por dar-lhe razões para me amar… Aprendi que por mais importantes que sejam certos aspectos da vida para mim, existirão sempre milhões de pessoas para quem esses aspectos não interessam rigorosamente nada… Aprendi que o castelo que demorei anos a construir, alguém o pode destruir em apenas alguns minutos… E que o importante é arranjar forças para voltar a reconstruí-lo… Aprendi também que muito vai demorar a tornar-me na pessoa que quero ser… Provavelmente isso vai até nunca acontecer… Mas que disso eu nunca irei desistir… Aprendi já que magoar é o que de mais fácil há de fazer… e também que perdoar é muitas vezes o mais difícil de conseguir… Aprendi também que o amor de um homem pode durar muito tempo… Mas é o amor dos pais e dos amigos que vai durar toda a vida! Aprendi que não se pode dizer a uma criança que os seus sonhos são impossíveis… Já sou adulta e detesto que digam isso dos meus… E sobretudo, aprendi que as mais doces palavras de amor perdem todo o seu sentido quando usadas sem critério. Aprendi ao fim e ao cabo o quanto é difícil traçarmos o nosso caminho pela vida… Por mais que não queiramos, acabamos sempre por ir parar à berma… e às vezes temos mesmo de iniciar um novo e longo caminho…
Tudo é digno de mudança, o tempo, as horas, as pessoas, cada pessoa. Eu também resolvi alterar, dar um rumo diferente à vida. Até pequenos hábitos alimentares, de descanso, de trabalho tudo vai ser alterado. Sim, também a forma de sentir algumas pessoas que chamam amor e comparam a vida de uma vela à vida de uma estrela. Não vou argumentar, mas aprendi há muito que o amor não começa e acaba num clic. Vamos dar tempo ao tempo e depois este responderá. Quando achar por bem irei junto de todos vós, e como quem põe a mão sobre o vosso ombro recordar-vos-ei, então que a estrela ainda brilha enquanto a vela há muito se extinguiu. Na praia agora vazia todos aguardam o próximo verão, os primeiros dias de calor da Primavera, os próximos dias de paixão em vão. Foi bom ter-te conhecido no Outono, antecipando o Inverno. Cresce devagar, anda à chuva, ao vento e perdura. Deixa-me antever o teu ser, a calma da tua voz, a serenidade do teu rosto, deixa-me flutuar sobre as tuas palavras a transparência da tua alma. Explica-me porque antecipo o que sentes, porque me estico para te alcançar em sonhos de manhãs frias e tu me acordas e eu sinto-te aqui, estando tu além. Porquê?
Sou timoneira, marinheira aventureira. Levo o meu barco, pelas águas do meu mar. Se o vento é forte, eu me coloco em alerta. Seguro firme, eu não me deixo naufragar. Arreio as velas, deixo o barco à deriva. Ao tom das águas, navegando devagar. Pego no leme e tento então tomar um rumo. Procuro um porto onde eu possa atracar. Um porto à vista nem sempre o encontramos. São muitas braças para que o possamos alcançar. Um bom marujo não se assusta com o tempo. De vento em popa, espero o dia clarear. Se o vento é leste, os seus estragos são maiores. É violento, e custa um pouco a se acalmar. Revolto o mar, faz seu passeio em plena proa. Vou a bombordo, e continuo a navegar. Não sou da rua, nem da lua, nem sou tua. Sou folha seca, solta ao vento, em pleno ar. Não sou de ferro, nem de bronze, eu sou normal. Sou marinheira eu sou das águas... EU SOU DO MAR!